segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Uma Modesta Proposta - Jonathan Swift

Uma Modesta Proposta, de Jonathan Swift. Escrito em 1729, na Irlanda.

Título Completo: Uma modesta proposta para prevenir que, na Irlanda, as crianças dos pobres sejam um fardo para os pais ou para o país, e para as tornar benéficas para a República.

Título Original: A Modest Proposal: For Preventing the Children of Poor People in Ireland from Being a Burden to Their Parents or Country, and for Making Them Beneficial to the Publick

Link (em PDF): http://tinyurl.com/SwiftModesta

Uma sátira sobre a sociedade e as politicas publicas para o bem estar social das camadas mais pobres, numa época anterior ao socialismo ou a qualquer tipo de movimento organizado com foco no bem estar humano. O autor sugere medidas para diminuir os níveis de pobreza de sua nação, argumentando como o problema das crianças pobres pode não só ser solucionado como pode se tornar útil e rentável as classes mais abastadas. Em tom jocoso, é um tapa na cara de muitas autoridades do nosso tempo.

Quer um exemplo? Semana passada tivemos o problema dos policiais combatendo os viciados em crack no centro da cidade de São Paulo, na região conhecida como Cracolândia. O problema está na maneira como se trata o problema: com chutes e pontapés (veja mais AQUI).

Assim como neste caso recente, onde o governo utiliza de seu aparato policial e da força física para "resolver" o problema dos viciados, e justifica seus atos com argumentos sem sentido, Swift utiliza os mesmos argumentos rasos, lançando mão de muitas falácias para corroborar seu ponto de vista. Seu objetivo é mostrar que, por mais horrível que um ato possa parecer, quando bem maquiado, sua aparência pode ganhar ar de sensatez. É claro que a modesta proposta é um caso extremo, propondo o canibalismo de crianças pobres. Mas ao utilizar dados e argumentos lógicos errados, porem concretos - mas que induzem ao erro do leitor - Swift não só trata do problema da pobreza e das politicas (ou da falta delas) de combate a mesma, como mostra como podemos ser manipulados por palavras certas.

Observe que logo no primeiro parágrafo, Swift já fará o leitor ficar ao lado dele em sua retórica:

"É motivo de melancolia para aqueles que passeiam por esta grande cidade, ou que viajam pelo campo, verem nas ruas, nas estradas, e às portas das barracas, uma multidão  de pedintes do sexo feminino, seguidas por três, quatro, ou seis crianças, todas em farrapos, a importunarem cada passante pedindo esmola."

Afinal, quem não gostaria de saber que já não existem mais pessoas na rua, passando fome e frio? A partir daí, Swift oferece a sua modesta proposta e mais, desafia os homens sábios a acharem uma outra proposta "igualmente inocente, barata, fácil e eficaz."

Adiante, lista 6 razões em sequência para se colocar em prática a sua proposta, entre elas:
- diminuir o número de católicos numa Irlanda onde estes eram, em geral, os mais pobres;
- renda para os pais das crianças;
- corte de custos para a nação;
- a roda da econômia irá girar, com a venda de "derivados" de criança;
- incentivo ao casamento.

Como refutar tais argumentos com tantas razões? Deixo a você a missão de distinguir e apreciar a critica de Swift, e pensar em como se pode evitar que propostas modestas sejam vendidas como salvação.

Boa noite.


Um pouco mais sobre Swift AQUI.

Eu instalo-me tranquilamente num blog

"Me chame de Ismael e eu não atenderei. Meu nome é Estevão, ou coisa parecida. Como todos os homens, sou oitenta por cento água salgada, mas já desisti de puxar destas profundezas qualquer grande besta simbólica. Como a própria baleia, vivo de pequenos peixes da superfície, que pouco significam mas alimentam." - Luís Fernando Veríssimo, O Jardim do Diabo (1987).

Assim Veríssimo abre seu primeiro (e não tão pequeno) romance, O Jardim do Diabo, evocando claramente Herman Melville em Moby Dick - este tão longe de ser uma pequena dose de texto quanto está perto de ser genial.

Me chame de Julio, posso dizer. Sou matemático e apreciador de literatura, ambas fazendo parte das famosas sete artes liberais, assim como defnido na idade média. Confesso ser bastante iniciante na última.

O objetivo do blog é trazer pequenas jóias. Ou doses, numa linguagem mais aprópriada ao ramo literário, como sabemos das vidas pessoais de muitos escritores e, principalmente, de seus personagens. Essas pequenas doses são textos curtos, destes que podem ser lidos em intervalos pequenos de nosso dia. Embora demande pouco tempo, são textos com significados que devem ser decifrados a cada leitura. Afinal, as pequenas jóias precisam ser garimpadas assim como as pequenas doses necessitam ser apreciadas.

Darei prioridade a textos de nomes consagrados da literatura brasileira e mundial. Primeiramente, porque muitos destes nomes possuem suas obras em dominio público. Segundo, pela facilidade de se encontrar os textos para disponibilizá-lo aqui. Claro que nosso pequeno bar estará aberto aos textos de iniciantes que queiram aqui divulgá-los. A casa é sua.

E, claro, nunca podemos nos fechar para as artes. Música, vídeo, imagens e o que mais puder ser divulgado estará presente nestas páginas, para a apreciação de todos, afinal, não se faz um bar apenas com o melhor dos vinhos. Precisamos do melhor licor, dos melhores rums e das melhores cervejas. Além de pesticos.

"Eu instalo-me tranquilamente num bar" - poderia ter dito Ismael. Para nossa sorte ele escolheu o barco. Não posso oferecer um barco, mas sinta-se a vontade em nosso buteco literário e aprecie nossas pequenas doses culturais. Sem moderação, por favor.